quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Seção I – Bens Culturais do acampamento da Cemig



Os bens culturais que serão apresentados neste grupo são resultado de um processo histórico que teve início com a barragem de Três Marias. Idealizada pela Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), criada pela lei nº 548, em 15 de dezembro de 1948, seu principal objetivo era regular a vazão do rio, sobretudo no trecho entre a cidade de Pirapora e o nordeste, facilitando a navegação nos períodos de seca, controlando as enchentes nos períodos de chuva e possibilitando o aproveitamento das águas para fins energéticos.

Um convênio estabelecido com a CEMIG e a CVSF em 1956 transferiria para a empresa Companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG as responsabilidades pela construção, fiscalização, acompanhamento geral e aproveitamento do represamento das águas da barragem para a construção de uma usina hidrelétrica.

A concorrência entre empreiteiras que deveriam executar as obras foi vencida pela empresa canadense Morrisen Knudsen Company Incorporated, que fundou uma filial brasileira com o nome de Companhia Construtora Corinto – (CCC).

A construção da barragem teve início em 1956 e foi concluída em 1961. Na época, a construção da barragem movimentou milhares de trabalhadores e atraiu outros milhares de pessoas para a região que estava em franca expansão.
No final da década de 1950, foi construído o acampamento da CEMIG voltado para estabelecimento de oficinas, moradias, espaços de lazer e serviços destinados a atender as famílias dos operários e técnicos encarregados de construir a barragem e a usina hidrelétrica Três Marias.Segundo o livro Memórias de Três Marias de João Gonçalves Neto, o acampamento da CEMIG possuía uma separação dos conjuntos habitacionais que seguia “(...) aos critérios de importância individual, tendo como referência as qualificações profissionais dos empregados e a nacionalidade dos mesmos.” Surgia assim uma separação inicial entre o acampamento dos “americanos” e o acampamento dos brasileiros. Ainda não foram feitos levantamentos específicos sobre o perfil das edificações do acampamento dos americanos, sendo que durante o Inventário do Patrimônio Cultural - IPAC os esforços foram concentrados nos levantamentos do conjunto residencial destinados aos brasileiros. Sabe-se que este conjunto era destinado sobretudo aos funcionários dos estratos médio e superior da hierarquia das empresas envolvidas, sendo o acampamento dividido entre as edificações conhecidas como “casas de uma família”, “duas famílias” e “quatro famílias”.

Além dos escritórios, oficinas e do conjunto residencial, o acampamento contava também com um grupo escolar, hospital, cemitério, frigorífico, restaurante, clube social, comércios, restaurante, cinema, alojamentos e  uma casa de visitas. 

De modo geral, as edificações destinadas ao uso residencial tinham a cobertura de telhas de zinco, o alicerce de cimento e as paredes de madeira, com revestimento interno de eucatex. Diversos informantes relatam que incêndios eram recorrentes devido à presença desses materiais inflamáveis.

Os serviços hospitalares e educacionais existentes no acampamento da CEMIG atendiam pessoas de toda a região, o que transformava o local em uma referência para toda a população independente de sua ligação com a empresa.

O projeto inicial da CEMIG previa um prazo de cinco anos para finalização das obras de extinção do acampamento. Em 1961, boa parte das obras foram entregues, mas o acampamento continuava a existir e desempenhar serviços normalmente.  Contudo, após a deflagração do golpe de 1964, o governo militar, que considerava a hidrelétrica de Três Marias como ponto estratégico da segurança nacional, passaria a controlar de maneira incisava a entrada e circulação de pessoas no acampamento.

Esse controle, que foi se implantando aos poucos, levaria ao declínio de alguns dos serviços prestados no acampamento e, posteriormente, à retomada do projeto de eliminar os conjuntos residenciais destinados aos operários das obras de construção da barragem e da hidrelétrica.

No início da década de 1970, o acampamento começou a ser desmanchado, e os moradores poderiam desmontar as edificações e levar os materiais. Os funcionários que permaneceriam na empresa seriam transferidos para a nova vila da CEMIG, localizada onde era o antigo acampamento dos “americanos” que, posteriormente, ficou conhecido como Pilar. Parte dos serviços também foram transferidos para esse local e alguns funcionam até hoje como escola, restaurante, hotel e serviços administrativos da empresa.

Durante o inventário realizado no ano de 2006, foram identificadas individualmente as ruínas do restaurante, do Grupo Escolar e do Hospital São Francisco. Além destas edificações, também foi feita uma ficha de inventário do conjunto de todas as ruínas identificadas na época, incluído aquelas que se referem as edificações que tinham uso residencial. A partir deste levantamento foi feito um mapa destas ruínas que pode ser acessado na versão completa do IPAC arquivada na Divisão de Cultura da Prefeitura Municipal de Três Marias.

O processo histórico que foi descrito acima levou a formação de outros bens materiais que também foram considerados de grande valor simbólico para a história de Três Marias durante o inventário. Estes são bens móveis ligados à instalação e funcionamento da usina hidrelétrica e foram incorporados ao patrimônio da Cemig em diferentes momentos históricos, tornando-se peça museal a partir do Projeto Usina por dentro, realizado pela empresa em 1998, quando foi criado um espaço para guarda de seu acervo histórico. Deste acervo, foram inventariados quatro bens, sendo eles um relé de distância, um voltímetro, um pressoato e um regulador de tensão.
















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