A importância
simbólica dos sítios naturais e conjuntos paisagísticos inventariados na seção
I, compreendida pela sede urbana, transbordam os aspectos ambientais e naturais
e invadem a vida cultural do município projetando a identidade ribeirinha que
hoje representa a cidade de Três Marias em âmbito local e nacional. Neste
contexto, o Rio São Francisco e o Lago de Três Marias destacam-se como os bens
que melhor representam esta identidade, sendo vistos por muitos habitantes de Três Marias
como o patrimônio cultural mais importante do município, uma vez que a origem
da cidade estaria diretamente ligada à construção da barragem em seu leito.
Com seu fluxo controlado pela
presença da barragem, o “Velho Chico” como é conhecido, apresenta vazão média
de 707 metros cúbicos em Três Marias e delineia o limite do município de Três
Marias com São Gonçalo do Abaeté. A ligação entre ambos os municípios é feita
pela ponte da rodovia BR-040 que transpõe as águas do Velho Chico, a ponte foi
inaugurada em 1957, tendo sido construída em paralelo à construção da barragem
de Três Marias.
Já, o Lago da Represa, também
conhecido carinhosamente como “Mar de Minas”, apresenta um reservatório
composto por cerca de 21 bilhões de metros cúbicos de água e 1.040 quilômetros
quadrados de superfície. Constituído
após a finalização da Barragem de Três Marias, em 1961, o Lago é o resultado
direto de um grande projeto que tinha como principais objetivos represar as
águas do Rio São Francisco para controlar enchentes, melhorar as
condições de sua navegabilidade e produzir energia elétrica.
No entanto, ao longo do tempo, se
viu que o impacto social e ambiental da formação do lago gerou outros
resultados muito importantes para a história local, tais como o estímulo ao
turismo, ampliação da atividade pesqueira, modificações climáticas
microrregionais e valorização das terras do entorno.
Em 2006, ano do inventário, a
preservação ambiental do Rio São Francisco e do Lago era colocada como um
grande desafio que dependia tanto da conservação de toda a bacia hidrográfica
localizada à montante da represa quanto do uso sustentável das suas margens.
Este desafio continua e ganhou novos contornos com a ampliação do parcelamento
e comercialização de terras nas margens do Lago, expansão das áreas de
monocultura do eucalipto sobre as nascentes e veredas, poluição advindas da
atividade industrial e da ocupação urbana não planejada, entre outros problemas
que, de certa forma, também estão descritos nas fichas de outros bens culturais
que compõem este grupo, tais como os córregos Barreiro Grande, Buritizinho e
Seco e a vereda denominada no inventário como Veredão.
Estes bens encontravam-se em
elevado estado de degradação no momento do inventário. Os córregos Buritizinho
e Seco são tributários do Córrego Barreiro Grande e todos eles sofrem forte
exposição a diferentes fontes de poluição, uma vez que passam dentro do centro
urbano de Três Marias.
Uma situação similar acontece com
o Veredão que, em 2006, sofria
com o uso e ocupação do entorno do sítio natural e desrespeito à suas margens
legalmente instituídas como de preservação permanente. No inventário, também
foi identificado que em alguns pontos a vereda é usada como local de
abastecimento de água e dessedentação de animais o que ameaçava a qualidade e
quantidade de água e consequentemente a preservação da vegetação no local. Além
disto, a BR-040 representa um impasse ao desenvolvimento do Veredão,
principalmente por não haver sido feito um sistema de drenagem ou transposição
da vereda quando da construção da rodovia. Cabe indicar que em seu baixo curso
os prolongamentos do Veredão se encontram formando o Córrego da Cascata das
Virgens, à jusante do ponto em que é cortado pela BR-040. Neste córrego, se
encontra a bela Cascata das Virgens, sítio composto pelo conjunto de duas
quedas d’água naturais também inventariadas em 2006. A primeira delas, mais a
montante do córrego, possui cerca de 8 metros de desnível, um poço pequeno e
pouco profundo à jusante, a segunda queda se dispõe
ao longo de uma escadaria natural.
Existem ainda dois
outros bens culturais que fazem parte deste grupo e combinam com a paisagem
contemplativa do entorno do Lago com a ocupação urbana gerada pela aglomeração
de milhares de pessoas na cidade. Um deles é conhecido como Pedra do Mirante,
ponto de visitação e apreciação da vista do Lago da Represa de Três Marias. Este
local é uma referência turística para a cidade, sendo de grande
representatividade para os moradores de Três Marias.
O outro é o famoso
Morro do Cruzeiro que configura mais um mirante da cidade de Três Marias e
entorno onde se localiza um cruzeiro. O belvedere formado por este sítio
natural também integra a paisagem contemplativa do Lago com a cultura local
criando um marco religioso que atrai peregrinos todo ano. Segundo a crença
popular, em épocas de estiagem deve-se subir o morro com pedras e água e
deposita-las na base do cruzeiro de modo a chamar chuvas.
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